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quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Kiffe kiffe demain - Faiza Guène

Indicação da minha querida (ela me esculhamba e eu continuo babando, sou besta mesmo!) professora de literatura francesa, Martine Kunz, Kiffe kiffe demain conta a história de Doria, uma adolescente de descendência marroquina nascida na França. A história se passa em Saint-Denis, na periferia de Paris. Doria, através do seu dia-a-dia mostra como ela, sua mãe, seus amigos, com os costumes de sua terra se adaptam num novo país. Eu adorei o livro como um todo, é super bem humorado, vc lê mas tem a impressão de estar escutando, tem muito vocabulário mais típico da oralidade e não demanda tanto esforço da parte do leitor. Esse é um dos meus trechos favoritos, logo abaixo a minha tradução (super livre), parece coisa de quem não tem o que fazer, neh? Também, admito, mas a idéia é que quem não fale francês tb curta um trechinho do livro ;-)

"Comme Maman est encore en vacances jusqu'à la semaine prochaine, on a décidé d'aller se balader toutes les deux dans Paris. La tour Eiffel, c'était la première fois qu'elle la voyait en vrai alors qu'elle habite à une demi-heure depuis presque vingt ans. Autrement, c'était à la télé, au JT de treize heures, le lendemain du jour de l'an quand elle est illuminée et qu'à ses pieds, des gens font la fête, dansent, s'embrassent et se bourrent la gueule. En tout cas, elle était vachement impressionée.
- Ça doit faire peut-être deux ou trois fois notre bâtiment, non?
Je lui ai répondu que c'était sûrement ça. Sauf que notre immeuble et la cité en général, ils suscitent moins d'intérêt auprès des touristes. Y a pas des mafias de Japonais avec leur appareil photo au pied des tours du quartier. Les seules qui s'y intéressent, c'est des journalistes mythos avec leurs reportages dégueulasses sur la violence en banlieue.
Maman, elle serait bien restée des heures à la regarder. Moi, je la trouve moche mais c'est vrai qu'elle en impose parce qu'elle est puissante la tour Eiffel. J'aurais bien voulu monter dans les ascenseurs rouge et jaune, genre Ketchup-mayo, mais c'était trop cher. En plus, il fallait qu'on fasse la queue derrière des Alemands, des Italiens, des Anglais et encore plein de touristes qui n'ont pas peur du vide et encore moins de dépenser leur fric. On avait pas non plus assez de sous pour acheter une tour Eiffel miniature, encore plus moche que l'originale mais quand même c'est la classe d'en avoir une posée sur la télé. Les stand attrape-touristes, c'est hyper cher. En plus, les mecs, ce qu'ils vendent c'est vraiment de la merde. Après, il y a un pigeon qui m'a chié sur l'épaule. J'ai essayé de m'essuyer discretèment sur une statue de Gustave Eiffel 1832-1923, mais la crotte était coriace et c'est pas parti. Dans le RER, les gens regardaient ma tache et j'avais la hchouma. J'étais dégoûtée parce que c'est la seule veste que j'aie qui fasse pas trop pauvre. Les autres, si je les mets, tout le monde m'appelle Cosette. Et puis, je m'en fous, que ça se voie ou pas, je serai pauvre quand même. Plus tard, quand j'aurai plus de seins et que je serai un peu plus intelligente, enfin, quand je serai une adulte quoi, j'dhérerai à une association pour aider les gens."

"Como a mamãe tá de férias até a semana que vem, a gente decidiu ir passear em Paris. Foi a primeira vez que ela viu a Torre Eiffel de verdade, mesmo morando a meia hora de lá há uns vinte anos. Antes, ela tinha visto na tv, no jornal das 13 horas, no dia de ano, quando ela fica iluminada e aos seus pés, as pessoas comemoram, dançam, se beijam e enchem a cara. Mamãe ficou boquiaberta.
- Dá três ou quatro vezes a altura do nosso prédio, não?
Eu lhe respondi que com certeza dava isso mesmo. Só que o nosso prédio e a cidade em geral interessavam menos aos turistas. Não tem um bando de japonês com suas máquinas fotográficas aos pés das torres lá do bairro. Só quem se interessa são jornalistas mentirosos com suas reportagens vagabundas sobre a violência na periferia.
A mamãe, por ela, tinha ficado horas e horas olhando. Já eu, acho que a torre Eiffel é sem graça, embora ela se imponha pelo seu poder. Eu até queria subir no elevador vermelho-amarelo feito catchup e maionese, mas era caro demais. Além do mais, tinha que entrar na fila e ficar de trás dos alemães, italianos, ingleses e outro bocado de turista que não tem medo de altura e muito menos de esbanjar grana. O nosso dinheiro também não dava pra comprar uma miniatura da torre Eiffel, muito mais sem graça que a original, mas mesmo assim é chique ter uma em cima da tv. Os stands chama-turista são super caros e pra piorar, o que eles vendem é realmente uma merda. Depois, um pombo cagou no meu ombro. Eu tentei me limpar discretamente numa estátua de Gustave Eiffel 1832-1923, mas já tava seco e não saiu. No trem metropolitano, as pessoas olhavam pra mancha e eu fiquei com vergonha. Eu fiquei chateada porque é o único moletom que eu tenho que não me deixa com cara de pobre. Os outros, se eu vestir todo mundo me chama de Cosette. Eu também num tou nem aí, que esteja escrito na minha testa ou não, eu sou pobre mesmo. No futuro, quando eu tiver mais seios e for um pouco mais inteligente, enfim, quando eu for adulta ora bolas, eu vou aderir a uma associação pra ajudar às pessoas..."

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